Fundador de ONG que denunciou políticos diz que já sofreu mais de 30 ameaças
Sir Carvalho, da Vigilantes da Gestão Pública, é o único membro da equipe a dar entrevistas e “mostrar a cara”
Curitiba – A organização não governamental Vigilantes da Gestão Pública, que denunciou à Justiça 11 políticos do Paraná incluindo deputados e ex-deputados, existe desde 2013 em Curitiba e funciona com estrutura “enxuta”. Segundo seu presidente e fundador, Sir Carvalho, há um pequeno núcleo que trabalha “full time” mas, “por questões de segurança, de forma diluída e sem local fixo”.
“Eu já sofri mais de 30 ameaças de morte e um atentado em 2016. Sou o único que me exponho nesse trabalho. São ameaças veladas. Sofri um acidente de carro provocado, quase morri, e isso me fez buscar porte [de arma] e usar colete balístico a partir daí”, afirma Carvalho. De acordo com ele, para sobreviver a entidade conta com a atuação de mais de 2,5 mil voluntários, espalhados pelo país, e com doações de pessoas físicas e jurídicas.
O presidente garante, por outro lado, que não recebe nenhum recurso público. “Não queremos, não aceitamos e não podemos (…) Temos uma vaquinha na internet. Fica pingando alguma coisa aqui e ali… Hoje eu precisaria de um orçamento de R$ 1 milhão por ano. Seria o ideal, ter uma equipe de peritos contratados… Como não é possível, a gente faz milagres”, prossegue.
CASOS EMBLEMÁTICOS
A ONG ganhou repercussão recentemente após denunciar supostas irregularidades no uso das verbas de ressarcimento por parte de membros da AL (Assembleia Legislativa). Os 54 parlamentares têm direito, além dos salários de R$ 25,3 mil e da verba de gabinete, usada para contratar comissionados, de receber todo mês R$ 31,4 mil.
O dinheiro pode, conforme a lei, ser gasto com combustíveis, material de escritório e alimentação, entre outros itens. No caso dos restaurantes, contudo, seriam permitidos apenas reembolsos de despesas feitas em viagens. A investigação mostra, entretanto, notas fiscais de restaurantes localizados na capital paranaense. Formado em Administração e com experiência de 30 anos em gestão pública, Sir Carvalho diz que sua atuação difere da dos movimentos sociais, que fazem advocacy e defendem bandeiras. “Nosso trabalho e minha filosofia são cirúrgicos. Ou seja, é atuar naquilo que está fora da lei e pronto. Posso não concordar com o que está na lei, mas é a lei”, opina.
Carvalho fala que a ONG investiga, estuda documentos e toma decisões de forma a provocar a autoridade competente. “Começamos com levantamento, análise de licitações de pequenos municípios, aquilo que é o padrão. Mas fomos além. Percebemos que a metodologia das fraudes acaba agindo de forma transversal, entre muitos municípios”. Outro exemplo de atuação, prossegue, está em situações de nepotismo, informadas às autoridades competentes.
“Teve ainda a operação Contêiner, que o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) desencadeou no Sudoeste do Paraná, que foi uma investigação nossa de quase cinco anos. A gente pegou cada contrato daquele grupo empresarial e fez uma radiografia até entregar o material para o Gaeco. Isso exigiu rodar milhares de quilômetros, fazer verificação documental, campana e registro por satélite”, recorda.
(Por Mariana Franco Ramos – Grupo Folha)
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