Como a maioria dos economistas do mundo, fui educada na firme crença de que alguns indivíduos alojados no Ministério da Fazenda e no Banco Central devem conduzir, mediante a manipulação dos gastos do governo, da oferta monetária e das taxas de juros, o futuro de um país.
O keynesianismo nos ensinou que o estado deve desempenhar um papel ativo, estimulando a demanda agregada mediante o aumento do gasto público. Consequentemente, nós economistas nos formamos com a ideia de que, diante de uma crise, enquanto as pessoas não querem investir nem consumir, somente o estado pode conseguir a reativação da economia.
Tal crença dura até o dia em que alguns de nós saímos do obscurantismo e descobrimos que sempre estivemos errados. E que Keynes, ao escrever sua Teoria Geral, esqueceu de que as variáveis da demanda agregada não são independentes.
Aprendemos que, se a demanda agregada é tida como “insuficiente”, alguns poucos indivíduos, que aparentemente são mais sábios do que a população inteira, devem redirecionar a economia mediante o aumento do gasto público. Entretanto, o mundo inteiro parece estar cego ao acreditar que esse dinheiro que é utilizado para “reativar” a economia cai do céu ou aparece magicamente nas mãos dos ministros que fazem esse planejamento central.
Não ocorre esse milagre.
Keynes, aqueles de nós que já fomos keynesianos e todos os que antes dele já utilizavam a fórmula de aumentar o gasto público para sair da crise, negligenciamos que um aumento dos gastos do governo somente pode decorrer de uma diminuição do consumo das famílias ou do investimento privado. Pode-se aumentar os impostos sobre o consumo, ou pode-se aumentar a tributação das empresas e, com isto, incrementar o gasto público. Pode-se também aumentar os déficits do governo e consequentemente seu endividamento, mas os juros dessa dívida serão pagos também mediante tributação.
Ou seja, o que os keynesianos propõem nada mais é do que uma transferência de recursos.
[N. do E.: é por isso que quem afirma que gastos do governo geram crescimento está afirmando que tomar dinheiro de uns para gastar com outros pode enriquecer a todos. Está afirmando que tirar água da parte funda da piscina e jogá-la na parte rasa fará o nível geral de água na piscina aumentar.]
Depois de compreender este grave erro, tudo parece ficar mais claro. Suponho que os antigos seguidores de Keynes, assim como eu, perguntam-se como fomos capazes de incorrer em tal engano. Bastiat diria, com muita razão, que há que exercitar a visão para conseguir ver aquilo que à primeira vista não se vê.
É claro que um aumento do gasto público aparentemente gera emprego. Quando um governo decide construir uma estrada, todos vemos os operários trabalhando e ficamos satisfeitos de que agora há trabalho para os que anteriormente estavam desempregados. Porém, o que não vemos, simplesmente, é que por conta desses impostos que nos foram cobrados para fazer a estrada, outras famílias deixarão de consumir e os vendedores desses produtos não-consumidos ficarão sem emprego. Deu-se trabalho a alguns operários, é verdade, porém em troca de outros ficarem sem emprego.
É, portanto, um erro fatal chamar de ganho aquilo que é um simples deslocamento.
Nenhum homem trabalha para guardar seu dinheiro dentro da gaveta para sempre. O dinheiro oriundo do trabalha sempre será destinado ou ao consumo, ou a aplicações financeiras (que irão financiar empreendimentos) ou ao investimento direto. Com esse dinheiro fruto do trabalho e da produção, criam-se empregos. Vale enfatizar: mesmo quando poupa-se o dinheiro em um banco, outro utilizará este capital para investir.
Portanto, cobrar impostos utilizando o argumento de que isso criará emprego é algo que não faz sentido.
Pense em um governante que cobra impostos para, por exemplo, subsidiar um museu. É verdade que dezenas de empregos serão criados apenas para gerenciar este museu, porém dezenas de outros também serão destruídos, pois diminuirá o consumo de alimentos, roupa, serviços e outros bens que aqueles que pagam o imposto não poderão mais comprar. Ademais, se você não gosta de arte, terá sido privado de consumir algo de que realmente gosta, para construir um museu ao qual não irá.
E tudo isto sem que se tenha criado um só emprego a mais do que existiria caso não tivessem cobrado o imposto.
Não seria mais sensato que você desfrutasse do dinheiro que conseguiu com o seu trabalho, comprando o que você quisesse, e que somente aqueles que valorizam ir ao museu pagassem para consumir esse serviço? Neste caso, o aumento do gasto público, como em qualquer caso, não criou emprego. O que realmente foi feito foi privar você de consumir um bem que realmente valoriza e lhe obrigar a gastar seus recursos em algo que o governo considerou conveniente, mesmo que ninguém vá ao museu e este não seja rentável.
Assim, o keynesianismo conseguiu mostrar-nos como se fosse um ganho aquilo que não passa de um mero rearranjo. Não ocorre a tal criação de emprego.
Mas, além disso, amparados nesta mentira, os governantes nos privam de desfrutar, naquilo que consideramos conveniente, o dinheiro que ganhamos honestamente. E fazem isso ao mesmo tempo em que criam um grande sistema parasitário, o qual se sustenta com os nossos impostos.
Não precisamos de um exército de burocratas que ganham a vida confiscando nosso dinheiro para criar aqueles empregos que nós mesmos criaríamos — e de uma maneira muito mais eficiente — ao direcionarmos nossos gastos àquilo que realmente desejamos. Não há maneira mais eficiente e moral do que essa para se criar empregos.
É imperativo que sigamos o conselho de Bastiat, e que de uma vez por todas acabemos com os mitos que nos fazem tanto dano. É dever dos que compreendemos esse erro abrirmos os olhos dos que ainda acreditam na mentira do gratuito. O gasto público não se aumenta com dinheiro que cai do céu, mas sim com dinheiro que sai de nossos bolsos.
Vanesa Vallejo nasceu em Cali, na Colômbia. Estudou Economia na Universidad del Valle. Atualmente, encontra-se envolvida em atividades de difusão do pensamento econômico austríaco na América Latina.
Fonte: Von Mises