Feridas do dia em que parto estrada a fora,
Sem saber se volto, sem saber quando, mas saio.
A dor no corpo velho e cansado é suplantada pela adrenalina do combate, na luta pelo bem comum, em algum lugar, pelo cidadão que nem conheço.
Os olhos embaçados pelo fogo dos sóis das estradas, solitários, ainda fitam horizontes, campeiam verdades que o dia-a-dia do combate não bota preço.
Os pés inchados, pelas longas horas no volante, pedem parada, mas a razão pede que siga adiante, por segurança, é necessário escolher o local, evitando emboscadas.
As costas, como tarimba de garimpo, gritando implora pela água de uma ducha, já não aguenta beijar o encosto quente do banco do veículo deslizando estrada à fora.
Os dedos, enrugados, as costas das mãos queimadas do Sol inclemente ainda firme no volante, como garras, dão a direção, guiam à próxima cidade, na busca das provas.
Quando paro, para engolir o que encontro disponível na estrada, escolho a mesa ao fundo, de costas para a parede, a arma destravada, em guarda, vagueia a mirada, avaliando os presentes, pisicologia de quem é caça ou predador.
A noite, depois da luta, em um quarto sem a mínima identidade com a própria história, impessoal, travando a porta, arma ao lado, estico o corpo na enxerga, adormeço, pesado sono, consciência leve, nenhum cidadão sabe que existo ali, defendendo o seu direito.
As cinco, ou pouco mais, desperto e sinto as dores da batalha, o corpo fala, grita, pra ser sincero, reclama do que faço dele, é só lamento.
Outra estrada, repete a vida, segue a luta, abrir feridas, fazer histórias.
As cicatrizes são testemunhos!
Sir Carvalho