Na têmpera do sofrimento

 

Não mediram a minha força e ação
Não sabiam como fui temperado, nem como fui parido na aflição.
Acreditaram na covardia de muitos, criados na facilidade e expansão,
Não sabiam da fome, do frio e da escassez da minha infância,
Mediram errado minha convicção.
A morte não me amedronta paizano, sou feito da razão,
Não temo a sombra da escuridão, não me entrego para canalhas de ocasião!

Sou filho da fome, frio e infortúnio, desses que só os pobres conhecem a imensidão,
Criado guacho, sem adulação,
Galopando à pelo, sem freio pelo sertão,
Comendo das ervas do campo, carneando bicho selvagem, não importando a condição.

Não sou nascido em laboratório, nem usei sapato na infância,
Rezei em rancho de chão batido, na quincha de picumã, fiz devoção.
Amanunciei potro chucro, tirando cócegas pela manhã,
Lavrei a terra, plantei sementes, olhei pro céu, pedindo chuva.
Acordei sobressaltado para recolher semente antes que a água tomasse tudo.

Sorvi o apojo na madrugada, com os pés no chão,
Recolhi o ovo para o choco de uma galinha,
Contei ninhada, dezoito dias,
Fiz parto, castrei, domei, fui domado,
Se enganaram, não sou assustado!

Sir Carvalho

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